quinta-feira, 26 de maio de 2011

Células-tronco podem ser o futuro da odontologia, diz estudo da Unicamp


Desde a década de 60, 70, estão sendo realizadas pesquisas com germe dental - estrutura embrionária de onde se derivam o elemento dental e suas estruturas de suporte. Naquele tempo, cientistas já haviam mostrado que, ao separar uma parte do germe dental de um determinado animal, como, por exemplo, de um lagarto, e implantá-lo em um pássaro, esse processo tornaria possível a erupção de um dente.

O professor de biologia bucal da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp, Sérgio Roberto Peres Line, explicou como isso é possível. "O dente é uma estrutura calcificada. Ele começa a ser formado como um brotamento do epitélio que reveste a cavidade bucal, como se fosse um primórdio do dente ainda não calcificado, conhecido como germe dental. Seu crescimento tem início ainda no período embrionário, dentro do útero materno, e se dá semelhante ao desenvolvimento de um broto vegetal".

Por um fenômeno conhecido como diferenciação celular as células do geme dental dão origem aos principais tecidos que formam o dente: esmalte, dentina, polpa e cemento. Um dos mistérios, comenta o professor, é saber como essas células se diferenciam, de maneira perfeita e exata, para formar o dente.

"Em estudos feitos recentemente com células de germe dental em ratos, os pesquisadores separaram as células que vão formar o esmalte (epiteliais), das células que vão formar a dentina, polpa, cemento (mesenquimais). O próximo passo é juntá-las, in vitro (processo chamado de cultura de células) em uma esponja de colágeno. Assim que a esponja estiver pronta ela será implantada num alvéolo dentário em um outro rato, que teve o molar extraído. As células no interior da esponja têm a capacidade de formar outro dente. Ou seja, o germe dental vai crescer e erupcionar como um dente natural.

O professor explica que ainda não é possível formar um dente perfeito. Todo esse processo dá condições para criar um dente, entretanto, ainda rudimentar, pequeno, semelhante a um dente monorradicular. " O tamanho e o formato de um dente dependem de vários fatores, que são determinados durante a embriogenese - quando o embrião é formado e se desenvolve. Fazer um dente perfeito será muito difícil. Caberá ao cirurgião-dentista dar forma e acabamento ao dente feito in vitro" , avalia Line.

Segundo o professor, mesmo sendo teóricamente possível formar um dente biológico a partir de células-tronco em humanos, isto seria economicamente inviável. Todo o processo, envolveria o esforço de uma equipe composta por profissionais da área básica, técnicos de laboratório e cirurgiões-dentistas, os quais terão a função de implantar o germe dental, e dar " acabamento" estético e funcional ao dente erupcionado, isto é, deixando a coroa no formato desejado.

É importante lembrar que atualmente, existem outras boas alternativas para suprir a ausência de um dente. Entre elas, está o implante dentário. Essa técnica funciona muito bem em mais de 95% dos casos. Os procedimentos de colocação do implante dentário são bem mais simples e por isto mais baratos do que os custos de um possível implante de germe dentário. Segundo o professor Line, " formar dente biológico talvez possa ser viável para pessoas que tiveram grande perda óssea ou que, geneticamente, tem tendência a perder o implante. Também há casos onde o implante é contra indicado. Mas isto ocorre em uma porcentagem muito pequena da população.

No futuro

Sérgio Line acredita que o futuro da odontologia é a prevenção. O mundo está caminhando para ter cada vez menos cárie e doença periodontal, e outros problemas serão mais relevantes, tais como, problemas ortodônticos, na Articulação-Temporo-Mandíbular (ATM) e alterações de tecido mole como aftas e estomatites. A odontologia, aos poucos, tende a olhar mais para essas áreas. As maiores contribuições recentes, na área odontológica, vieram de trabalhos relacionados à área de engenharia, no desenvolvimento de novos materiais, como, resinas e compostos.

O que tem despertado o interesse dos pesquisadores, não só da odontologia, como da medicina, é entender a diferença entre as pessoas do ponto de vista genético. "Há indivíduos que tem propensão a desenvolver cárie, outros não. Pesquisas estão sendo desenvolvidas com o propósito de entender como isso funciona. A partir desse novo conhecimento, será possível particularizar o tratamento. Isso é bom do ponto de vista de saúde pública. Se as pessoas souberem que tem propensão a determinadas doenças, como a diabetes, tomarão mais cuidado com aquele aspecto. Assim, como aquele indivíduo que tem propensão a doença periodontal, deve ser procurar o dentista em períodos regulares, os que têm tendência a desenvolver diabetes, devem ter uma dieta mais saudável. Essa nova abordagem deve ocorrer a curto e médio prazo", espera.

Células-tronco

É uma célula que tem potencial para se diferenciar em vários outros tipos de células. O organismo humano possui células diferenciadas e indiferenciadas. As diferenciadas são aquelas que já estão desenvolvendo suas funções. Entre os exemplos de células diferenciadas temos a célula cardíaca cuja função é a contração, e o ameloblasto, que tem a função de produzir e depositar esmalte na superfície dos dentes. Já a célula indiferenciada está " esperando para saber em qual célula irá se transformar" ,ou seja, para se diferenciar.

O professor Line fala sobre o interesse dos pesquisadores em trabalhar com células-tronco embrionárias. " O ideal é pegar as células-tronco embrionárias porque estas possuem um grande potencial de diferenciação. No entanto aspectos técnicos e éticos, dificultam esta abordagem. Atualmente, boa parte dos trabalhos tentam utilizar células-tronco do adulto. O objetivo é fazer com que essa célula se diferencie na forma desejada: condrócito, osteócito, etc.

Neste aspecto, a melhor opção para fazer um dente, acredita Line, talvez seja desenvolver uma metodologia com células-tronco adultas. Nesse caso, as células tronco seriam retiradas da própria pessoa, não necessariamente de um germe dentário. Sendo desta forma imunologicamente compatível

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